A liberação do crédito suplementar de R$ 400 milhões para o INCRA, poucos dias após as mobilizações da Via Campesina, em Brasília, dão a pista de uma correção de rumo administrativo que agrada em cheio os movimentos sociais. “Vocês conseguiram recolocar a reforma agrária no centro da pauta de discussão do governo Dilma”, disse Gilberto Carvalho, ministro da Secretaria Geral da Presidência, após uma reunião com representantes da Via Campesina, para uma platéia de sem-terra acampados na Esplanada.

Para o deputado federal Valmir Assunção (PT-BA), com origem política no MST, “é um primeiro gesto concreto do governo para sustentar as palavras do ministro e mostra boa vontade para a reaproximação com os movimentos sociais”, contemporiza. “Mas ainda é pouco perto do que precisamos fazer para a reforma agrária acontecer e a sociedade brasileira colher os frutos, inclusive os que hoje tentam criminalizar os movimentos e as nossas lutas”, alfineta o deputado.

Valmir Assunção: assentado do MST no Congresso Nacional

Assunção mediou as conversas entre governo e Via Campesina que levaram seus líderes a uma reunião com representantes de 11 ministérios. Ele é um dos cabeças do movimento que começa a ganhar corpo dentro do PT, ao defender teses como a paridade entre homens e mulheres na direção do partido e autonomia dos militantes que atuam em movimentos sociais. Propostas como essas, defendidas por Valmir e figuras como os ex-ministros Altemir Gregolim e José Fritsch (ambos ex-titulares do Ministério da Pesca) e Angélica Fernandes (chefe de gabinete da senadora Marta Suplicy), têm conseguido aparar arestas e romper o bloqueio que isolou os agrupamentos mais ideológicos e os manteve afastados do centro do poder na burocracia partidária.

O embrião do que pode se tornar uma nova tendência petista – ou um campo de tendências socialistas – já incorporou as propostas desde a sua constituição.

O novo grupo vai definir de que forma se organizará e qual a identidade que assumirá a partir do seminário. Hoje eles se identificam provisoriamente pela palavra-chave do seu manifesto “inaugurar um novo período no PT”. Texto e programação visual das peças de divulgação que circularam pela internet remetem às origens do partido, quando uma borboleta antecedeu a estrela como marca do PT. Os militantes do “inaugurar” reivindicam-se parte do processo político que levou à eleição de Lula e Dilma e do legado petista, sobretudo na área social.

Mas, assim como o deputado Valmir Assunção se posicionou em relação à suplementação do orçamento do INCRA, eles reconhecem a importância dos avanços e querem mais. Sua estratégia está centrada no aprofundamento das relações com os movimentos sociais e a incorporação de suas pautas na disputa pelos rumos do partido e do governo. Nesse ponto, as três propostas apresentadas ao congresso ganham apoio de grupos que hoje estão no centro do poder, mas num passado não muito distante posicionavam-se na chamada esquerda do PT.

A próxima semana pode reservar surpresas para o PT e seus militantes. Além do congresso que reformará o estatuto do partido, foi convocado um seminário com a pretensão de unificar os grupos minoritários mais à esquerda em mais uma tendência interna ou campo político – no jargão petista, uma espécie de frente ou coalizão.

A proposta surgiu depois da cisão da Articulação de Esquerda (AE), com a saída de mais da metade da militância da tendência. A convocação para o seminário “Inaugurar um novo período no PT”, partiu dos dissidentes, e começou a receber sinalizações de apoio tão logo o racha foi divulgado. Nomes de peso, como Emir Sader, o líder da bancada, Paulo Teixeira, Jilmar Tato, deputado federal com grande influência no diretório municipal de São Paulo, o vice-governador e secretário da Cultura do Ceará, Francisco Pinheiro, e o ex-ministro Nilmário Miranda, hoje presidente da Fundação Perseu Abramo, confirmaram presença. Mas a programação lista um bom número de deputados federais e estaduais e atuais ministros, além de lideranças de movimentos sociais sem filiação partidária.

Segundo os organizadores do evento, a participação das “celebridades” nos debates não significa adesão à proposta em gestação de organizar uma nova força declaradamente socialista. Mas a programação divulgada ontem mostra que o movimento dos dissidentes da AE teve eco no partido em todas as regiões. A repercussão nas hostes petistas sinaliza a possibilidade de aglutinação de agrupamentos antes isolados em suas convicções, com reflexos de curto prazo na partição dos cargos da burocracia partidária e até na ocupação de espaços dentro do governo. Um desses grupos, a Tendência Marxista (TM), do vice cearense, Francisco Pinheiro, por exemplo, iniciou uma “paquera” com os dissidentes da antiga AE. Se acertarem os ponteiros com a TM os dissidentes já ficam maiores que eram quando integravam sua antiga tendência.

O ex-ministro José Fritsch, presidente do PT catarinense, aposta no discurso mais ideológico e no estreitamento das relações com os movimentos sociais como fermento para fazer crescer o bolo dos socialistas. “Queremos construir uma aliança interna sólida com os companheiros e companheiras que têm mais convergências do que divergências para disputar os rumos do PT e do governo Dilma”, explica Fritsch. Para ele a presença de lideranças de movimentos sociais não necessariamente filiadas ao PT, como João Pedro Stedile (MST), Tânia Slong e Rosângela Piovisani (Movimento de Mulheres), retrata bem o sentimento dos que desejam “inaugurar um novo período”.

Já o deputado federal baiano Valmir Assunção, liderança revelada nas fileiras do MST, a nova organização, seja na forma de tendência, seja na forma de campo – um conceito petista que pode reunir tendências sem que haja fusão – traz a novidade de congregar os mais diversos segmentos sociais. “Estamos convidando as mulheres, os sem terra, os sem teto, negros e indígenas, o movimento LGBT e todos os segmentos discriminados e que carregam o peso de atuar o preconceito e a criminalização”, explica o deputado.

O seminário dos socialistas do PT antecederá o congresso estatutário que vai deliberar sobre propostas polêmicas, como regras mais restritivas para a realização de prévias para escolha de candidatos a cargos majoritários. Será uma primeira oportunidade de avaliar o nível de coesão entre grupos mais ideologizados e menos pragmáticos que a frente hegemônica surgida após a crise de 2005 para restabelecer o controle do partido, unindo o antigo campo majoritário de Lula a outros agrupamentos que tradicionalmente faziam a disputa interna com os lulistas. Se o novo bloco se afinar, terá musculatura suficiente para ser o fiel da balança em decisões cruciais do congresso e da definição das estratégias eleitorais para 2012 e 2014.

Seminário Inaugurar um Novo Período no PT
1 e 2 de setembro (abertura às 9:30 h do dia 1 e encerramento às 12:30 do dia 2)
STIU (Sindicato dos Urbanitários) – SCS, quadra 6, lote 110, Ed. Arnaldo Vilares, 7º. Andar

https://inaugurarpt.wordpress.com

Assessoria de imprensa: Ernesto Marques (2280-BA) – 71.9129-8150  ernestomarques13@gmail.com

Programação (clique para ampliar):

O deputado federal Valmir Assunção (PT-BA) faz um chamamento para o seminário “Inaugurar um novo período no PT”, a ocorrer no dia 1º de setembro, em Brasília (DF), véspera do IV Congresso Nacional do PT.

A programação e o local do seminário, entre outros detalhes, serão divulgados em breve.

Valmir Assunção (Foto: Gustavo Bezerra/PT)